Três dias após o fim do segundo turno das eleições presidenciais, em que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sagrou-se vitorioso ao superar o atual mandatário Jair Bolsonaro (PL), manifestantes aproveitaram o feriado nacional e foram às ruas para se juntar aos protestantes que bloquearam as rodovias federais. Ao todo, a Polícia Rodoviária Federal ainda busca desobstruir 123 pontos de bloqueios realizados pelos caminhoneiros ao longo do território brasileiro. O Mato Grosso, Paraná e Santa Catarina são os Estados que mais registram ocorrências de obstruções de vias, com 31, 18 e 14 pontos de interdições, respectivamente. Minas Gerais segue com 7 pontos de bloqueios; Tocantins e Espírito Santo, com 4; São Paulo, Mato Grosso do Sul e Acre, com 2; e Bahia, Maranhão Pernambuco e Rio Grande do Sul tiveram um único ponto de manifestação. Até o momento, os Estados do Amapá, Alagoas, Ceará, Distrito Federal, Paraíba, Piauí, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Roraima e Sergipe não registraram atos com pedidos de intervenção federal nas estradas federais.
Com trajes verde e amarelo e placas com a bandeira do Brasil, parte dos manifestantes pediam intervenção federal e concentraram-se próximos a bases militares no país. Em São Paulo, cerca de 30 mil paulistas se concentraram no Parque do Ibirapuera, local próximo ao Comando Militar do Sudeste. Já no Rio de Janeiro, houve uma alta concentração de protestantes na Praça Suque de Caxias, região no entorno do Comando Militar do Leste. Na capital federal, em Brasília, o Quartel General de Brasília foi o local escolhido pelos manifestantes para expressarem sua indignação com o resultado eleitoral presidencial divulgado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), no último domingo, 30. Belo Horizonte, Porto Alegre, Salvador, Recife, Fortaleza, Florianópolis, Campo Grande e outras capitais pelo país registraram aglomerações expressivas. Nos locais onde os protestos ocorreram longe das rodovias federais, houve expressão da força política sem tumultos ou ocorrências policiais.
Desde domingo à noite, as rodovias federais também foram palco de protestos. No total, foram 688 pontos de obstruções desfeitas desde o início do mote dos caminhoneiros. Segundo informações do Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP), foram 912 multas emitidas aos motoristas que integraram as manifestações pela rodovia. Entre os casos mais graves está a ocorrência na Rodovia Washington Luiz, na altura do quilômetro 451, próximo à cidade de Mirassol, em São Paulo. Um motorista que dirigia um Volkswagen Fox de cor prata atropelou dezenas de manifestantes no local. O autor do crime foi detido pelos policiais em seguida e seu carro foi destruído pelos protestantes no local. Nenhuma morte foi confirmada no episódio até o momento. Ainda no Estado paulista, na Rodovia Presidente Castello Branco, próximo À cidade de Barueri, policiais da Tropa de Choque da Polícia Militar utilizaram jatos d’água e bombas de gás lacrimogênio para retirar os protestantes do local. Parte dos manifestantes resistiram às ordens de saída e mantiveram-se na rodovia.
Em vídeo divulgado em suas redes sociais e nos perfis de políticos próximos, o presidente Jair Bolsonaro (PL) pediu aos manifestantes que deixassem as rodovias e não obstruíssem as vias públicas. Na visão do mandatário, é necessário não “perder nossa legitimidade”, já que “todo mundo está tendo prejuízo” com as interdições. Na gravação, o chefe do Executivo ponderou que está “triste” com o resultado eleitoral e que manifestações são parte da democracia, desde que não prejudiquem o direito de ir e vir das pessoas. “Quero fazer um apelo a você: desobstrua as rodovias. Isso daí não faz parte, no meu entender, das manifestações legítimas. Nós sempre tivemos dentro dessas quatro linhas. Temos que respeitar o direito de outras pessoas que estão se movimentando, além [de trazer] prejuízo à nossa economia”, disse. Bolsonaro ainda ressaltou que, devido ao alto número de grupos e de pontos de obstrução, o trabalho da Polícia Rodoviária Federal passou a ser dificultado, embora sua atuação seja digna de destaque, segundo o presidente da República.
A respeito da atuação da instituição fiscalizatória das rodovias nacionais, o Ministério Público Federal (MPF) ingressou com um pedido em regime de urgência no Distrito Federal para solicitar a abertura de um inquérito policial que vise investigar a atuação do diretor-geral da Polícia Rodoviária Federal, Silvinei Vasques. Em sua argumentação, o MPF afirma que o trabalho “deverá investigar se os bloqueios de veículos realizados pela PRF em várias estradas, principalmente na região Nordeste, no dia da votação, respeitaram a legislação e se não constituíram ofensa ao livre exercício do direito de voto pelos cidadãos abordados”. Caso seja comprovado o envolvimento ou a leniência do servidor durante sua atuação à frente do órgão nos últimos dias, Vasques poderá responder pelos crimes de prevaricação e violência política. Na noite da última segunda, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) já havia determinado que a PRF deveria adotar todas as providências necessárias para que as rodovias fossem desbloqueadas, sob pena de multa de R$ 100 mil, além do afastamento das funções e da possibilidade de ser preso em flagrante. Em sua decisão, o magistrado destacou possível “omissão e inércia da Polícia Rodoviária Federal”.